Na praia com os russos

Domingo. 35 graus. Folga: Praia. Levo comigo os russos que ando a adiar há meses. Entre o trabalho, a preguiça e o trabalho, há sempre qualquer coisa mais urgente, mais importante ou mais néscia para fazer.

Hoje Gogol: Diário de um Louco – que estranhamente está todo aqui – é um magnífico conto. Por debaixo da camada humorística e louca que aparenta ser a história do personagem principal, há uma crítica à sociedade do século XIX, aos excessos da burocracia, à impossível ascensão social.
E Doistoievski. O Jogador:

Há duas espécies de jogo: uma para cavalheiros, outra para plebeus, o jogo cobiçoso para toda a canalha. A distinção aqui é rigorosa – e como essa distinção é vil na sua essência! Por exemplo, um cavalheiro pode apostar cinco ou dez luíses de ouro, raramente mais; pode no entanto apostar mil francos, se for muito rico, mas apenas pelo próprio jogo, apenas para divertimento; no fundo apenas para seguir o processo de ganhar ou perder; mas não deve de modo nenhum interessar-se pelo próprio ganho. Se ganhar, ele pode por exemplo rir-se alto, fazer uma observação a algum dos circunstantes, ou até pode apostar outra vez e outra vez duplicar, mas unicamente e só por curiosidade, para observar as possibilidades, para fazer cálculos, não pelo desejo plebeu de ganhar”.

Fala de casinos, mas podia falar do jogo de especulações. Da economia de casino, em suma. Estava no século XIX.