Esboço de uma reportagem frustrada

A segunda fase dos exames nacionais do 12ª ano começou hoje:

«Ainda não são 8h30 e Pedro, 18 anos, já está à porta da Secundária Carlos Amarante, em Braga. Não tira os olhos azuis do chão. O brinco metálico brilha na orelha direita enquanto explica: “Deixei Português para a 2ª fase porque é o exame mais difícil”. A esta hora é um dos poucos alunos que aguardam junto da porta principal da escola. São cinco, que sentam na escadaria frontal, ou apoiam-se no corrimão.

Mas, não tarde, aparecem muitos mais estudantes. Aglomeram-se em frente da vitrina, onde se informa quais as salas em que decorrerá a prova de Português. Ao lado estão expostas as notas dos exames da primeira fase. Para alguns destes estudantes, a culpa de estarem aqui hoje é delas.

É o caso de Sara, 17 anos. Confessa que o exame da primeira fase “não correu bem” e voltou hoje à escola para fazer a prova de melhoria. Apontamentos nas mãos, visivelmente amarrotados pelo uso, e ar grave e concentrado.

À entrada da Carlos Amarante, as conversas giram à volta de Fernando Pessoa e da Mensagem, enquanto se ouvem os últimos conselhos. “Não te esqueças: Introdução, desenvolvimento e conclusão. A organização é muito importante”, sugere Carla, professora de português, preocupada com o resultados dos seus alunos. As notas da primeira fase foram preocupantes e hoje está à porta da escola a falar com os estudantes. “As vírgulas e os acentos no lugar. Isto é uma prova de Português”, insiste a docente.

Estamos muito perto das 9h00, hora marcada para o exame. O nervosismo instala-se entre o grupo de alunos. Fumam-se os últimos cigarros, do lado de fora do portão. Roem-se as últimas unhas – ou o que resta delas. E chegam os alunos mais atrasados. O último, entra na escola corre, de calções axadrezados e t-shirt com cores fluorescentes. Grita: “Sala 29”»

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